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Exemplos Simples

A partir dessa seção eu irei mostrar alguns exemplos simples e fazer observações sobre o código. Experimente fazer cada um desses exemplos e modificá-los à vontade.



Exemplo 1

	{ c d e f g f e d }
\includegraphics{lily-80487a2b0d-1}
Neste primeiro exemplo note que o código é muito simples, e consiste somente das chaves e do nome das notas. Automaticamente o Lilypond acrescenta: 1) as linhas do pentagrama, 2) a clave de Sol, 3) o compasso quaternário, 4) as figuras rítmicas em semínima e, 5) inicia a melodia no dó2.
Esse é o padrão do Lilypond. Se quiser que alguma coisa seja escrita diferente do padrão, é preciso especificar o que e onde.



Exemplo 2

	{ \clef bass
	c d e f
	g f e d }
\includegraphics{lily-0fa91b86c7-1}

Neste segundo exemplo eu repeti as notas do exemplo anterior, mas fiz duas alterações. A primeira foi o acréscimo do comando \clef bass. Esse comando diz ao Lilypond que eu quero uma clave de baixo, ou seja, uma clave de fá ao invés da clave de sol padrão. Outra modificação foi que eu dividi a melodia em duas linhas, cada linha com quatro notas. Dessa forma eu posso visualizar no código onde começa e onde termina cada compasso. A divisão do código em linhas não afeta em nada o resultado final. É somente uma forma de organizar melhor o código. Isso pode parecer sem efeito em exemplos pequenos, mas quando você tem uma música com cinquenta compassos, e encontra um erro no compasso 33, você vai querer ter um código bem organizado, para encontrar rapidamente o compasso desejado.



Exemplo 3

	{ c 
	d
	e 
	f              g            a
		 b
				 c }
\includegraphics{lily-ff04dc2f3d-1}

Esse exemplo está com o código proprositadamente bagunçado, para que você perceba que o Lilypond não leva em consideração a quantidade de espaços entre as notas, nem tampouco a quebra de linha. O único requisito mínimo é haver um espaço entre as notas. Mas, escrever dois, três ou dez espaços entre as notas, ou quebrar as linhas de forma aleatória não irá mudar o resultado final da partitura. Na hora de compilar, o Lilypond ``lê'' o código fonte da esquerda para a direita e de cima para baixo. O que importa é que as informações estejam escritas nessa ordem lógica.

Outra informação interessante nesse exemplo é que o Lilypond usa como padrão o registro de oitava referente ao dó2. Isto é, toda nota escrita sem nenhuma informação adicional será interpretada como pertencente ao registro de oitava dó2. Por isso, neste exemplo 3, a primeira nota é um dó2 e a última nota também é o dó2, pois o código escrito é igual. Para mudar de registro de oitava é preciso acrescentar um apóstrofe (') para uma oitava acima, ou uma vírgula para uma oitava abaixo.



Exemplo 4

	{ c d e f
	g a b c'
	c' d' e' f'
	g' a' b' c'' }
\includegraphics{lily-49eceea6aa-1}

Este exemplo volta a ter o código organizado, sendo cada linha referente à um compasso. A mudança do registro de oitava do dó2 para o dó3 foi atingido acrescentando um apóstrofe para cada nota da escala, ou no caso da última nota, um dó4, duas apóstrofes. Seguindo o mesmo pensamento, todas as notas do registro de oitava referente ao dó4-si4 precisariam de duas apóstrofes depois da nota.



Exemplo 5

	{ c c'' d' e
	f' d'' e' f'''
	\clef bass
	c b a d
	e, f, g' a, }
\includegraphics{lily-6a9ca825d0-1}

O exemplo 5 mostra notas em registros diversos com o uso de apóstrofes e vírgulas para oitavas graves. Perceba que depois da segunda linha foi escrito o comando \clef bass. Dessa forma a partitura começou com a clave de sol padrão, e a partir do terceiro compasso mudou para a clave de fá. Simples assim...



Exemplo 6

	\relative { 
	c d e f
	g a b c
	d e f g
	a b c d
	}
\includegraphics{lily-c3d87505bd-1}

Este exemplo 6 introduz o comando \relative. Esse comando faz com que o Lilypond interprete uma nota em relação à anterior. Ou seja, qualquer nota escrita será relativa à nota anteriormente escrita. E essa relação é sempre da nota mais próxima possível, isto é, se eu escrevo a nota si e depois a nota dó, o Lilypond vai procurar o dó mais próximo desse si. Dessa forma, com o comando \relative fica muito mais simples escrever melodias simples com poucos saltos. Note que, se eu escrever somente o comando \relative, o Lilypond assume o dó3 como dó inicial.

Exemplo 7

	\relative c { 
	c d e f
	g a b c
	d e f g
	a b c d
	}
\includegraphics{lily-1b9dd08c03-1}

Neste exemplo, semelhante ao exemplo anterior, eu só acrescentei uma nota dó ( c ) após o comando \relative. Neste caso, o Lilypond volta a interpretar o dó2 como dó padrão.



Exemplo 8

	\relative c' { 
	c d e f
	g a b c
	d e f g
	a b c d
	}
\includegraphics{lily-f17f7e52a4-1}

Uma das vantagens do comando \relative, é o de indicar qual o registro de oitava inicial da música. Ao inserir um apóstrofe no dó após \relative, nós informamos ao Lilypond que o dó inicial passa a ser o dó3. Logicamente, se quisermos iniciar uma melodia no dó4, basta inserir duas apóstrofes (ex. \relative c''). Perceba que o \relative (ex. 06) acaba tendo o mesmo efeito do \relative c' (ex. 08). Para não criar confusão nem dúvidas, eu aconselho sempre usar o \relative seguido do registro da oitava que se pretende.



Exemplo 9

	\relative c' { 
	c d c e
	c f c g
	c a c b
	}
\includegraphics{lily-d0c7854dee-1}

Este exemplo 9 mostra bem como é que o Lilypond entende o comando relative. No primeiro compasso, a nota ré (segunda nota do compasso) mais próxima do dó3 (primeira nota do compasso) é um intervalo de segunda, ou seja, o ré3. Da mesma forma, o mi (quarta nota do compasso) mais próximo do dó3 é o mi3 uma terça acima. O mesmo ocorre com o fá do segundo compasso. Todavia, o sol (quarta nota do segundo compasso) mais próximo do dó3 (terceira nota do segundo compasso) é o sol2, uma quarta abaixo. Mesmo que a intenção musical fosse escrever um sol3, o Lilypond compara e percebe que o sol3 fica uma quinta justa do dó3, enquanto que o sol2 fica uma quarta justa abaixo do dó3. Logo, o sol2 é mais próximo do dó3 do que o sol3. O mesmo ocorre com o lá2 (uma terça abaixo do dó3) e o o si2 (uma segunda abaixo do dó3).



Exemplo 10

	\relative c' { 
	c d c e
	c f c g'
	c, a' c, b'
	}
\includegraphics{lily-e8787ec0ee-1}

O Exemplo 10 mostra como podemos escrever corretamente o exemplo anterior. A partir dessa constatação podemos perceber que o comando \relative procura notas até um intervalo de quarta da nota anterior. Se eu escrevo uma nota dó3, e em seguida quero um salto de sexta, ou seja, um lá3 (ver terceiro compasso), eu preciso escrever um apóstrofe na nota lá (a') para o programa pegar essa nota lá mais próxima do dó3, que seria um lá2, e escrever uma oitava acima. Da mesma forma, depois desse lá3, se eu escrever um dó sem apóstrofe, ele iria interpretar como uma terça acima do lá3, isto é, um dó4. Por isso eu coloco uma vírgula no dó (terceira nota do quarto compasso) para ele escrever esse dó4 uma oitava abaixo, ou seja, dó3.



Exemplo 11

	\relative c'' { 
	c b a g
	f e d c
	}
\includegraphics{lily-2a9d6a0e24-1}

Esse exemplo 11 faz uso do \relative c'' para indicar que o dó inicial é o dó4.



Exemplo 12

	\relative c''' { 
	c b a g
	f e d c
	}
\includegraphics{lily-574e657170-1}

O exemplo 12, de forma similar ao exemplo 11, faz uso do \relative c''' (note os três apóstrofes) para indicar que o dó inicial é o dó5.



Exemplo 13

	\relative c''' { 
	c b a g   |  a c, d e | a, c' b a |  g e, f g |
	}
\includegraphics{lily-0b729a9a7d-1}

O exemplo 13 é mais um exemplo do uso da vírgula e do apóstrofe para mudar a oitava da nota que seria escrita (pelo princípio da nota mais próxima relativa à nota anterior). Note que nesse exemplo foi inserido uma barra a cada quatro notas, simbolizando a barra de compasso. Na verdade, esse símbolo é desnecessário já que o Lilypond interpreta corretamente a posição das barras de compasso. Nesse caso serve mais como um auxílio para organizar o código de forma diferente.



Exemplo 14

	\relative c' { 
	c ees d fis |  g a bes b  | cis cisis dis e  | ees eeses des c  |
	}
\includegraphics{lily-cd38003b9c-1}
1 \includegraphics{lily-cd38003b9c-2}

O exemplo 14 introduz os comandos para escrever o símbolo de sustenido (is), o bemol (es), o duplo sustenido (isis) e o duplo bemol (eses). Não insira nenhum espaço entre a nota e sua alteração.



Exemplo 15

	\relative c' { 
	\key d \major
		d e fis g | a b cis d  | c b a g  | f e d c  |
	}
\includegraphics{lily-f398cb5be0-1}
1 \includegraphics{lily-f398cb5be0-2}

Neste exemplo podemos notar o comando para mudar a tonalidade da música `\key d \major'. Nesse caso o comando \key (tonalidade em inglês) informa que vai haver uma mudança de tonalidade. A informação que segue diz qual a tonalidade, nesse caso o ré maior (\major significa maior em inglês. Se quiser uma tonalidade menor é só escrever \minor).
Note que no terceiro compasso aparece um dó bequadro. Quando olhamos o código percebe-se que o dó no terceiro compasso não tem nenhum sinal de alteração, e que o fá sustenido e o dó sustenido do primeiro e segundo compasso, respectivamente, precisaram que o código tivesse o complemento is para serem interpretados como tal. Daí aprendemos que o Lilypond não assume que, uma vez que você diz que a tonalidade é `x', ele passa a colocar automaticamente os acidentes da armadura em cada nota. Na verdade, o comando \key d \major só faz imprimir a armadura de clave, mas as notas da melodia precisam de sustenidos ou bemóis para serem interpretadas como tal, senão serão interpretadas como sendo naturais, fazendo o Lilypond inserir bequadros onde for necessário.



Exemplo 16

	\relative c' { 
	\key d \major
		d fis a bes | d c b! a!  | cis d c b | cis! d e d  |
	}
\includegraphics{lily-99a3205ab6-1}
1 \includegraphics{lily-99a3205ab6-2}

Este exemplo 16 introduz o comando `!'. Esse sinal de exclamação depois da nota ``exige'' que o Lilypond escreva o acidente da nota em questão. Perceba que no segundo compasso tem um dó natural, ou seja, um dó com um bequadro. No terceiro compasso volta a ser dó sustenido, mas como está na armadura, não há nenhum sinal na nota. Lembre-se que qualquer alteração só vale dentro do compasso para aquela oitava específica. No quarto compasso eu ``exijo'' que o Lilypond escreva o acidente do dó, mesmo que esteja na armadura. O mesmo vale para o bequadro no si do segundo compasso. Essa é uma boa solução para alguns casos, mas na maioria das vezes o que a gente está procurando é um sinal de precaução, o que é mais elegantemente escrito como no exemplo 17.



Exemplo 17

	\relative c'' { 
	\key aes \major
	\time 3/4
		aes bes c  |  d f ees!  |  c des? d  |  ees? e fis  |
	}
\includegraphics{lily-67dd97bb31-1}

Neste exemplo o acidente de precaução, solicitado pelo comando `?' (um acidente entre parênteses) no terceiro e quarto compasso, está misturado com o acidente ``exigido'' pelo comando `!'. Convenhamos que o símbolo entre parênteses é muito mais elegante que o símbolo sozinho, uma vez que ele já se encontra na armadura de clave.
Outra informação nova nesse exemplo é o comando para alterar o sinal de compasso com o comando \time 3/4. Neste caso, é importante notar o uso da barra comum / na fração numérica que representa o sinal de compasso desejado.



Exemplo 18

	\relative c'' { 
	\key g \major
	\time 6/8
		e8 d c d e fis  |  e g fis a4.  |  b8 a16 g fis8 e4.  |
	}
\includegraphics{lily-b1960ce0ed-1}

Neste exemplo vemos pela primeira vez como mudar a figura rítmica. Como dito anteriormente, o Lilypond tem como padrão a semínima. Se quisermos mudar a figura, é preciso informar ao programa. E isso é feito de forma fácil e simples. Cada figura é representada pelo número de sua fração em relação à semibreve. Logo, a semibreve = 1, mínima = 2, semínima = 4, colcheia = 8, e assim por diante. Outra informação interessante é que, uma vez que você informa que mudou de figura rítmica, o programa irá permanecer naquela figura até você informar uma nova mudança. Se você observar atentamente ao código, o número 8 só aparece na primeira nota do primeiro compasso, e as notas seguintes não têm nenhum número associado. A próxima mudança só ocorre na quarta nota do segundo compasso, com o número 4 seguido de um ponto anexados à nota lá. Note que o ponto funciona da mesma forma que na escrita convencional, adicionando metade do valor à figura correspondente, nesse caso, uma semínima pontuada.



Exemplo 19

	\relative c { 
	\key e \major
	\time 2/4
	\clef bass
		e fis8 a  |  gis4 r8 dis  |  e4 r  |  r8. fis16 e4  |
	}
\includegraphics{lily-7e370ce84e-1}

Neste exemplo aparece o `r', o comando referente à pausa (rest em inglês). Perceba que assim como uma nota comum, ele mantém o valor da figura precedente (terceiro compasso), ou é alterado à sua vontade (segundo e quarto compassos).



Exemplo 20

	\relative c' { 
	\key f \major
	\time 2/2
	\clef alto
		c2( d | e1) | r2 f( | e) d ~ | d1 ~ | d2 bes |
	}
\includegraphics{lily-d266d89026-1}

Este exemplo apresenta dois símbolos novos: 1) a ligadura de expressão `(' `)', 2) a ligadura de valor `~'. A ligadura de expressão à vezes causa uma certa confusão, pois o símbolo que inicia a ligadura `(' deve vir após a nota que ela vai tocar, e não antes da nota. Já o símbolo que finaliza a ligadura de expressão `)' deve vir depois da nota que ela finaliza. Observe na partitura que a ligadura começa na primeira nota (dó), mas no código o símbolo vem depois da nota.



Exemplo 21

	\relative c { 
	\key bes \major
	\time 3/4
	\clef bass
		f( ees d)
		ees8 f( g16 a bes c e4)
		d2. \bar "||"
	\key d \major
	\time 2/4
	\clef tenor
		r4 d8 c
		b4 cis8 d ~
		d4 fis
		d2 \bar "|."
	}
\includegraphics{lily-23fd9b329f-1}

Esse é o último exemplo, um pouco mais complexo que os demais, com quase todos os comandos mostrados até então. Note que, após o terceiro compasso, há uma mudança de tonalidade, compasso e de clave, tudo isso bem claro no código. O único elemento novo é a barra dupla \bar "| e a barra final \bar "..

A partir de agora você já está apto a escrever melodias simples no Lilypond. Lembre-se que a prática leva à perfeição, ou no nosso caso, à memorização dos comando. Boa sorte.


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Hugo Ribeiro 2007-09-07